Karmem não se incomodava de prosseguir fora da trilha, pelo meio do rio.
- A água está na nossa canela. Que refrescante! O rio bate no nosso pezinho e ouvimos um chuá, chuá. Quer som mais relaxante que esse?
Logo o chuá, chuá havia se tornado um ensurdecedor tchuááááááááá.
O que significava, claro, que o nível fluvial já alcançava a cintura.
- Karmem, estou ficando com os ovos gelados.
- Você trouxe ovo também na mochila?
- Esse tipo de ovo, não, os meus 'ovos'!
- Hihihi.
Para tornar tudo mais fácil, a força das águas ficava cada vez mais intensa conforme avançávamos. Íamos contra o sentido da água, para chegar à sua fonte, pisando nas pedras que, além do limo, eram lixadas constantemente pelo rio. Uma trilha, assim, super fácil, já que decidimos abandonar o caminho por entre as árvores.
- Karmem, não sei se consigo andar mais...
- Como você é mole. Faz quanto tempo que estamos andando, uns quarenta minutos?
- Deixa eu olhar no relógio... Acabamos de completar treze horas.
- Como o tempo passa quando estamos nos divertindo à beça, não é mesmo?
A maior diversão era ver que, pelo menos, se eu estava "aguarrado" (soterrado por água) até o peito, Karmem, 20 centímetros mais baixa, estava submersa do queixo para baixo. Pensei que isso fosse o suficiente para que ela desistisse, mas Karmem não era dessas. Chegaríamos à cachoeira, nem que tivéssemos que usar bambus para respirar!
E assim foi. Chegamos sãos (?) e salvos (?) à queda d'água.
- Não é a melhor visão do mundo?
- Não sei.
- Como, não sabe?
- São onze horas da noite, não estou enxergando nada.
- Quanto negativismo. Só você para ignorar que está no mais perfeito paraíso.
- Olha, só estou preocupado em imaginar como é que vamos voltar daqui...
- Cadê a corda?
- Que corda?
- A que eu coloquei na mochila.
- Aquele pedaço de elástico?
- Esse mesmo!
- Eu achei que fosse só para amarrar a mochila porque o zíper emperrou e não fecha mais.
- E a sua criatividade inventorística, onde vai parar nessas horas?
Sem entender onde ela queria chegar, entreguei o elástico.
- Pronto, agora você sobe lá, prende uma das pontas e me joga a outra. Rapel é tão divertido!
- Subo onde?
- Onde mais? Na cachoeira!
- E você quer que eu suba como? Tem elevador?
- Quanto corpo mole. Sobe ali pelas pedras, vai!
E lá ia eu, subindo pelas pedras dentro da cachoeira. De onde vinham as forças, não em perguntem. Só sei que em breve elas me abandonaram.
- Kaaaaarmem!!!!!!!
- Ai, não acredito que você não conseguiu se segurar!
Pelo menos, a viagem de volta levou muito menos tempo. Arrastado pelo rio, voltei ao ponto de partida em quarenta minutos, exatamente o tempo que Karmem sentira passar na viagem de ida. Tempo suficiente, também, para que Karmem aparecesse do meu lado. De carro.
- E não é que você tinha razão?
- Gasp, puff, puff, ãh?
- Instalaram um elevador mecânico na cachoeira, para facilitar o acesso dos turistas. FIcava do outro lado, eu só tive que dar a volta para encontrá-lo e subir tudo.
O pessoal do hotel fazia viagens gratuitas até ali de carro. Quando Karmem contou que eu tinha sido arrastado, o guia de turismo de plantão foi com ela me socorrer. Só não entendiam porque alguns turistas insistiam em aventurar-se pelas águas perigosas, lamacentas e a correnteza forte para chegar a um lugar que se podia alcançar em 15 minutos de carro pela estrada.
1 de jun. de 2010
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