25 de fev. de 2010

Abominável homem da espuma

Karmem sempre fazia com que eu me sentisse bem em relação à minha aparência:

- Seu cabelo é ridículo.

- Quanto?

- Muito. Vai lá passar esse gel agora.

- Mas eu gosto dele assim, do jeito que est...

- A-G-O-R-A!

Uma semana de namoro e era assim que trocávamos confidências amorosas no banquinho da faculdade.

- Usa ali a água do bebedouro, para baixar um pouco essa juba.

- Não é melhor eu fazer isso na pia do banheiro?

- Não! Eu quero ter certeza de que você vai fazer o processo do jeito certo, e que não vai gastar todo o meu gel.

Karmem sempre confiou em mim.

- Deixa eu mesma passar.

- Ai, não puxa!

- É que está muito alto. Você não podia ter a cabeça mais pra baixo?

- Se você continuar puxando, ela vai ficar...

- Espera aí, tem algo estranho.

- Fora o fato de você estar molhando o meu cabelo no meio do campus?

- Que frasco é esse?

- O que você me deu.

- Xi, me confundi!

- Confundiu o quê?

- Isso não é gel, é sabonete líquido.

- E isso escorrendo nas minhas costas é o quê?

- Faça as contas. Sabonete + água é igual a...?

- Hummmm... Espuma?

Karmem sabia como lidar com as mais variadas situações e sempre nos livrar dela. Geralmente com a mesma solução: rir enquanto eu corria para dar um jeito em tudo.

- Tá parecendo o abominável homem das neves agora!

- E você vai ficar só rindo?

- Não, vou fotografar para todo mundo ver depois. Essa eu não posso perder.

- Posso lavar no banheiro?

- Ainda não.

- E por quê?

- Por que nenhum amigo meu já passou aqui para ver. Ah, péra! Professor, olha só o garoto que eu namoro! Pode uma coisa dessas?

- Mas o que está acontecendo aqui?

Fiz o que qualquer pessoa normal faria. Corri gritando:

- Foi essa louca que me encheu de sabão na cabeça!

Via-se uma auréola na cabeça de Karmem.

- O senhor acredita? E ainda quer colocar a culpa em mim! Esse menino sempre tenta denegrir a minha imagem...

Mas tudo compensava. As risadas de Karmem ainda ecoariam por muito tempo em meus ouvidos.

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