Karmem sempre fazia com que eu me sentisse bem em relação à minha aparência:
- Seu cabelo é ridículo.
- Quanto?
- Muito. Vai lá passar esse gel agora.
- Mas eu gosto dele assim, do jeito que est...
- A-G-O-R-A!
Uma semana de namoro e era assim que trocávamos confidências amorosas no banquinho da faculdade.
- Usa ali a água do bebedouro, para baixar um pouco essa juba.
- Não é melhor eu fazer isso na pia do banheiro?
- Não! Eu quero ter certeza de que você vai fazer o processo do jeito certo, e que não vai gastar todo o meu gel.
Karmem sempre confiou em mim.
- Deixa eu mesma passar.
- Ai, não puxa!
- É que está muito alto. Você não podia ter a cabeça mais pra baixo?
- Se você continuar puxando, ela vai ficar...
- Espera aí, tem algo estranho.
- Fora o fato de você estar molhando o meu cabelo no meio do campus?
- Que frasco é esse?
- O que você me deu.
- Xi, me confundi!
- Confundiu o quê?
- Isso não é gel, é sabonete líquido.
- E isso escorrendo nas minhas costas é o quê?
- Faça as contas. Sabonete + água é igual a...?
- Hummmm... Espuma?
Karmem sabia como lidar com as mais variadas situações e sempre nos livrar dela. Geralmente com a mesma solução: rir enquanto eu corria para dar um jeito em tudo.
- Tá parecendo o abominável homem das neves agora!
- E você vai ficar só rindo?
- Não, vou fotografar para todo mundo ver depois. Essa eu não posso perder.
- Posso lavar no banheiro?
- Ainda não.
- E por quê?
- Por que nenhum amigo meu já passou aqui para ver. Ah, péra! Professor, olha só o garoto que eu namoro! Pode uma coisa dessas?
- Mas o que está acontecendo aqui?
Fiz o que qualquer pessoa normal faria. Corri gritando:
- Foi essa louca que me encheu de sabão na cabeça!
Via-se uma auréola na cabeça de Karmem.
- O senhor acredita? E ainda quer colocar a culpa em mim! Esse menino sempre tenta denegrir a minha imagem...
Mas tudo compensava. As risadas de Karmem ainda ecoariam por muito tempo em meus ouvidos.
25 de fev. de 2010
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