22 de out. de 2008
Clarinata da Rainha
Quando Elisângela ouviu a Clarinata da Rainha tocando, finalmente deu-se conta do significado dos acontecimentos que precederam sua subida ao altar. Não viu mais nada em sua frente.
As flores, a decoração, tudo que havia sido um martírio em mais de dezoito meses, passaram despercebidos.
Fosse um de seus eventos profissionais, teria fuzilado com os olhos um casal de convidados que foi de tênis. Mas naquele momento não. Estava sublime, sentindo uma estima principalmente pelo noivo, Caio, que seria seu companheiro dali por diante. O buquê, recolhido pela mãe, havia sido confeccionado pessoalmente por ele.
Do lado dos padrinhos, Carlos Charles tentava manter as lentes de contato que insistiam em sair do lugar com as lágrimas. O jornalista decidira combinar a cor dos olhos com a gravata de cristais.
A cerimônia transcorreu bem, não fosse o engasgo da noiva na hora de dizer 'Na riqueza e na pobreza'. Sua sugestão de texto, 'Na riqueza e no glamour e não me venha com opções diferentes disso', não foi muito bem aceita pelo padre.
Na hora do esperado 'sim', os convidados soltaram um suspiro coletivo. O padre também. E o pessoal da decoração, da banda e os pombos moradores das árvores em frente à igreja. Meses de pressão finalmente se dissiparam.
Elisângela estava casada! Saiu da igreja ao som de "My first, my last, my everything".
- Mais calma agora?
Perguntava Carlos Charles, já no salão.
- Agora? Mas eu sempre estive calma!
- Bom, eu estou.
- Ótimo. Até porquê, tenhos duas missões para você.
- Quais?
- Primeira, me ajudar a organizar o DVD do casamento.
- E a segunda?
- Conto com seu bom gosto para montar o quarto do bebê.
Diante do espanto do amigo, Elisângela revelou detalhes:
- Na confusão toda, esqueci de tomar a pílula.
- Acho que terei que fazer uma viagem.
- Não demore, então, pois só confio na sua ajuda.
- De quantos meses você está?
- Dois.
- Então vai levar sete meses a viagem.
- Para onde?
- Ainda não decidi!
- Não me enrole e não disfarce, que você vai amar escolher o papel de parede de bichinhos.
- Tomara que seja menina, porque a gente vai forrar tudo de rosa!
Carlos suspirou mais uma vez e se posicionou para ver o arremesso do buquê. Um braço mais comprido, de uma loira muito alta, levou vantagem e agarrou as flores assim que foram projetadas. A loira posicionou pétala por pétala em seu chapéu, sorrindo triunfante por algum motivo que só ela entendia. Algum tipo de simpatia, será?
O transcorrer da noite foi agradável e divertida, entre parentes e amigos, pois o casal só enviara convites a quem realmente lhes era precioso. Afinal, "Hipócrita, na minha festa de casamento, não", era a frase que Elisângela mais usara para a lista de convidados.
Dali por diante, Elisângela deixou de ser noiva, mas jamais abandonou seu desejo por fazer tudo à sua maneira e com a sofisticação que a natureza lhe conferiu.
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