Se soubesse tudo que estaria por vir, o Caio provavelmente não teria optado por fazer uma cerimônia de casamento tradicional. Um mês depois de conhecer a mulher de sua vida na porta de uma danceteria, a Elisângela, e muitos encontros casuais - forjados por amigos em comum que enxergavam o quanto se completavam -, decidiu fazer a proposta.
Certo de que a garota merecia uma solenidade à sua altura, convidou os pais de ambos para um jantar num dos melhores restaurantes da cidade e mostrou o par de alianças na hora da sobremesa. Elisângela sorriu e terminou a banana split antes de experimentar – Caio acertara o tamanho exato do seu anular! Os garçons mais tarde comentaram entre si que os pais da moça sorriam não apenas de felicidade, mas de um certo alívio. Provavelmente, por terem encontrado um genro tão bacana. Que outra opção haveria para não terem ainda casado uma filha tão bonita?
Na manhã seguinte, Elisângela apresentou a Caio um de seus maiores tesouros, que chamava de ‘O livro fazedor de sonhos’. Como organizadora de eventos, mantinha um caderno forrado com cetim dourado no qual listava fornecedores de decoração, serviços de catering
- Mas antes de pensarmos nisso não é melhor escolher a data? Sugeriu Caio.
- A data é o de menos. Eu caso quando o Reinaldo estiver disponível.
- E quem é Reinaldo? - Indagou Caio, imaginando se haveria outro noivo no dia.
- O único decorador em que eu confio para o meu casamento.
No fim o Reinaldo teria mais influência sobre o que preencheria igreja e salão, para alívio do Caio, cuja noção de decoração resumia-se a atualizar o pôster do seu time sobre a cabeceira da cama.
Não tardou para que amigos, parentes e conhecidos começassem a dar suas sugestões.
- A igreja do meu bairro é linda! Tem vitrais simulando o teto da Capela Sistina, mas na vertical!
- O Buffet que eu me casei, há 30 anos, é perfeito! E eles haviam acabado de pintar na época, ainda deve estar lindo!
Pressentindo que poderia ter atritos, Elisângela reuniu pais e sogros num almoço de domingo e buscou as palavras certas para deixar claro que não queria palpites em seu casamento:
- Eu não quero palpites no meu casamento.
Levantou uma das sobrancelhas e acrescentou, num tom amistoso:
- Fui clara ou preciso ser mais específica?
Claro, respeitaria a opinião do noivo, até porque, sabia que ele iria pagar sua parte da festa. Mas este mesmo conceito foi abalado no dia da escolha das fitas para o bem-casado.
- Caio, decidi que será verde, mas você pode me ajudar a escolher o tom.
- Tom?
- Sim, o tom. Qual você gosta mais?
E a vendedora espalhou uma série de fitas com várias tonalidades de verde sobre o balcão.
- Mas qual a diferença entre eles?
Elisângela suspirou tão fundo que as fitas voaram todas e a atendente correu a reposicioná-las.
- Veja, há nuances diferentes entre as cores. Existe o verde-musgo, o verde-esmeralda, verde-mar, verde-exército, verde-limão...
- Ah, verde-limão é bonito! Pode ser?
- Verde-limão?
- Ué, qual o problema com o limão?
- Caso você não tenha reparado, os anos oitenta acabaram na noite de 31 de dezembro de 1989... Você colocaria esta fita fosforescente nos nossos bem-casados?
- Mas isso é verde-limão?
- Claro!
- Só se for onde você mora... Na feira lá do meu bairro não tem nenhum limão dessa cor...
Na mesma noite, a mãe consolava Elisângela:
- Calma, filha, os homens são assim mesmo.
- Daltônicos? Ainda bem que tenho o Reinaldo na minha vida! Já marquei a primeira reunião para amanhã.
O que a noiva criada no Itaim não sabia era que haveria mais alguém presente. Chegando com mais de uma hora de atraso (ensinar caminhos não era seu forte), Elisângela e Caio encontraram Reinaldo conversando com outro casal.
- Mas que audácia, ele está atendendo outras pessoas no nosso horário!
- Nosso horário com ele acabou tem 15 minutos...
- Isso não importa – bradou a filha única. Ele tinha que ter nos aguardado! Como eu iria saber que naquela avenida existem dois sentidos?
- Ah, Elisângela, querida, que bom que você chegou bem a tempo de conhecer a outra noiva! Estamos discutindo a decoração de vocês.
Sim, havia outra noiva agendada para o mesmo dia na igreja e Elisângela teria que decidir em conjunto sobre a disposição dos arranjos e todos os elementos para ornamentar a nave.
- Prazer, meu nome é Márcia Rosana. Nossa, como você é linda!
“Pelo menos, começamos bem” – pensou Elisângela.
- Estou aqui tentando convencer o Reinaldo a usarmos flores de plástico, que não murcham e o pessoal pode levar para casa de lembrança, mas ele não quer. Vê se me ajuda, amiga!
“Agora, fodeu de vez”.
Um comentário:
Estou adorando a saga. A noiva do itaim é meio perdidinha como eu.
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