"Você vai casar? Tem que ser Agora!
A Agora! Assessoria em Casamentos garante a cerimônia dos seus sonhos.
Fale com uma de nossas consultoras e lembre-se: se você vai dizer 'sim', tem que ser Agora!"
Carlos Charles guardou o cartão no bolso externo do paletó pois sabia que ele renderia boas risadas mais tarde. Na sua frente, a simpática consultora da Agora! Casamentos ajeitava os cravos na lapela de todos, inclusive daquele tio que bebeu antes de chegar e perguntava se ela era o padre.
- Ai, ai, ai, ai, ai.
Na escala de 'ais' de Carlos Charles (na qual cada 'ai' representava um nível de breguice), os convidados receberam cinco. Mas sua missão ainda estava começando e ele deveria guardar suas forças para o que ainda estava por vir.
Primeira tarefa: registrar a noiva. Esperou que todos os convidados e o noivo entrassem e postou-se na lateral da igreja.
Lá veio ela, pontualmente. Desceu do carro, um Cadilac rosa, em seu vestido bordado de lentejoulas fruta-cor. Carlos apontou o celular, mirou e guardou a cena.
No mais, até que a cerimônia foi tranqüila.
Tirando algumas gafes, como o fato da noiva não ter respondido o tradicional 'sim'.
Ousada, quando o padre fez a pergunta da noite, disse com convicção:
- Com certeza!
Foi ovacionada com uma chuva de risoto de frango, já preparado para ser servido no bufê, e de lá o novo casal partiu em uma carruagem cujo padronagem seguia a mesma do vestido.
"É agora que eu entro", pensou Carlos, ajeitando a gravata cheia de cristais.
- Com licença? O senhor pode me acompanhar?
Chamou de lado o rapaz da decoração.
- Em primeiro lugar, este tapete. Veja, tem dobras em tudo que é lado. Ajeite! Em segundo, pode substituir essas flores murchas.
A verdade é que fossem elas de plástico como desejava a garota-furta-cor recém desencalhada e não seria necessário, mas elas não resistiram aos ataques das mãos dos convidados, que só não as levaram porque os arranjos estavam bem amarrados.
- E as bananeiras do altar, remova.
- Mas quem é o senhor?
- Não interessa! A próxima noiva não quer nada disso! Vamos, que ela não vai casar com o Tarzan. Tire as bananeiras.
Mas que fique claro que não fora um erro do decorador, o toque tropical havia sido imposição das outras noivas.
- E onde que eu vou colocar?
- Acho melhor não me peguntar e descobrir um lugar logo logo, ou eu vou explicar.
Logo começaram a chegar os convidados do casamento de Elisângela. Laleska, uma transexual chamado Osvaldo, fez questão de usar um motivo de flores na cabeça.
Em poucos minutos, a igreja estava exatamente como Elisângela vislumbrava e Carlos a avisou pelo telefone:
- Está tudo do jeito que você quer. Pode vir.
Na maison, Elisângela finalmente respirou aliviada, fazendo com que o clima sossegasse. Não por acaso, havia uma profissional de massagem terapêutica estrategicamente contratada ali. Para aliviar os estresse dos funcionários, obrigados a lidar com noivas semanalmente. Dessa vez, até ela estava acalmando Elisângela.
- Calma, é só o seu casamento, tudo vai estar do jeito que você quer...
Mas nunca tudo estava do jeito que Elisângela queria. Quase foi com bobes e tudo cuidar pessoalmente da decoração. Foi contida pela turma do penteado, que a cercou e a prendeu com os fios dos secadores de cabelo.
- Calma que ainda faltam os últimos ajustes no topete! Segura ela na cadeira!
O noivo aguardava no bar da esquina e comenta-se que ficou extremamente feliz, afinal, ganhara o campeonato de sinuca do começo da tarde.
Posicionados todos os convidados, a igreja parecia um harmonioso mar de tecidos e texturas. Elisângela tinha razão: a decoração simplista fez com que seus trajes ornassem com o restante, ganhando o merecido destaque.
(continua)
8 de set. de 2008
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