- Abre para mim? Eu sempre tomo choque.
- Calça este chinelinho de borracha então.
- Você não pode abrir a água para mim?
- Posso, mas só queria que você tentasse com o chinelo porque assim não cria corrente elétrica. E quando eu não estou por perto, como você faz?
- Só tomo banho quando tem outra pessoa em casa. Eu nunca abro ou fecho o registro, porque sempre me dá choque.
- Tá, mas aqui em casa você pode abrir, Karmem, que não tem perigo. Eu nunca tomo choque.
- Você não entendeu. Eu sempre sou eletrocutada quando me aproximo de qualquer aparelho elétrico.
- Mas isso não é possível...
- Comigo, é sim.
- E há quantos anos você não abre o registro do chuveiro?
- Desde criança. Também não ligo nenhum fio na tomada.
- Mas isso é absurdo! Os plugues das tomadas são encapadinhos.
- E me dão choquinhos!
- Garanto que esse registro não vai dar choque, pode abrir tranquila.
- Você adora ver que eu me machuquei, né?
- Claro que não! Olha, se você tomar choque aqui, pode me bater depois. Combinado?
- Só não garanto que vá bater na mesma intensidade do choque. Provavelmente vai ser mais.
- Ok. Sem problemas.
- BZZZT! Olha, tomei choque! Seu insensível, fez isso comigo! Agora toma, toma, toma!
- Você fez 'bzzzt' com a boca, que eu vi!
- Não fiz, não fiz!
- Fez sim!
- Prove, então!
- Esse chuveiro é aquecido à gás!
27 de fev. de 2009
26 de fev. de 2009
Diálogo
"Oi, Mad. Tá tudo bem contigo? Trouxe mais uma criança lá do terceiro mundo na bagagem, é? Deixa eu olhar no meu bolso se não esqueci minha carteira em algum lugar... Hmmm... Chave do carro, pastilha de menta, Oscar, outro Oscar, ah, achei, carteira!"
(quem não entender me chama...)
(quem não entender me chama...)
17 de fev. de 2009
Postura corporativa
- Canta!
- Mas eu estou no meio do trabalho...
Não era um pedido, era uma ordem. O objetivo, claro, não era apreciar minhas (inexistentes) aptidões para a cantoria, mas me causar embaraço.
- Ah, vai, eu quero...
- Tenho que desligar.
- Você vai desligar na minha carinha?
- Não, é que tem uma ligação aqui para mim.
- E como você sabe?
- A menina da recepção está acenando para mim. Ai, pronto, ela anotou o recado.
- Então canta.
- Agora? Eu canto à noite, quando encontrar com você, pode ser?
- Não! à noite já vai ter passado minha vontade de te ouvir cantar. Tem que ser agora!
Ela tinha o poder de me fazer perder a noção do ridículo.
- E que música você quer?
- Você vai ter que adivinhar!
- Karmem, eu estou trabalhando, o escritório está cheio de pessoas me olhando nesse exato minuto - retruquei, baixinho.
- E daí? Só uma musiquinha, vai.
- Então fala qual você quer.
- Não vou falar e você tem que cantar a canção certa!
- Tá bom, vai aquela da 'Cabeça, ombro, perna e pé', pode ser?
- Pode!
- Cabeça, ombro, perna e pé...
- Tá muito baixo.
- Karmem, já estou passando a maior vergonha aqui.
- Então canta de uma vez com convicção para acabar logo.
- Cabeça, ombro, perna e pé, perna e pé!
- Aposto que você não está fazendo os gestos!
- Tem que fazer?
- Claro! Que graça que tem se você não fizer? Aliás, só deixei cantar essa música, que não foi a que eu escolhi, porque tem a coreografia.
- Tá, vamos lá. Cabeça...
- Você não está fazendo!
- Estou, sim!
- Não tá não!
- Ok, não estava. Mas vou fazer agora.
- E canta alto, que eu quero sentir animação.
- Cabeça, ombro, perna e pé, perna e pé!
- Não vale.
- Por que não vale?
- Você está sentado na cadeira, tem que ser de pé.
- Karmem...
- Tem que ser de pé!
Levantei e comecei:
- Cabeça, ombro, perna e pé, perna e pé! Cabeça, ombro, perna e pé, perna e pé! Olhos, orelhas, boca e nariz. Cabeça, ombro, perna e pé, perna e pé!
No escritório, todos me olhavam. Do outro lado da linha, Karmem ria histericamente.
- Não acredito que você fez isso!
- Ué, não foi o que você me pediu, Karmem?
- Foi, mas o que que vão pensar de você aí agora? Credo, como você é louco!
- Posso desligar agora?
- Aí, tá vendo, quer desligar na minha cara. Você não gosta de falar comigo.
- Gosto, sim, não diga isso.
- Então me canta a musiquinha de ficar feliz.
- Karmem?!?
- Vai, aquela. Você sabe qual. Porque eu fiquei tristinha de saber que você não gosta de falar comigo e preciso voltar a ser feliz.
- Mas eu adoro falar com você.
- Então me mostra!
Como não havia jeito mesmo, dei vazão à loucura:
- Para ser feliz é preciso ter, esse céu azul e a imensidão...
Karmem ria tanto que não pode continuar falando ao telefone.
- Deixa eu desligar, porque estou trabalhando. Meu serviço é sério, não podem me ver gargalhando como uma doida no telefone, né?
- Mas...
- Tchau!
- Mas eu estou no meio do trabalho...
Não era um pedido, era uma ordem. O objetivo, claro, não era apreciar minhas (inexistentes) aptidões para a cantoria, mas me causar embaraço.
- Ah, vai, eu quero...
- Tenho que desligar.
- Você vai desligar na minha carinha?
- Não, é que tem uma ligação aqui para mim.
- E como você sabe?
- A menina da recepção está acenando para mim. Ai, pronto, ela anotou o recado.
- Então canta.
- Agora? Eu canto à noite, quando encontrar com você, pode ser?
- Não! à noite já vai ter passado minha vontade de te ouvir cantar. Tem que ser agora!
Ela tinha o poder de me fazer perder a noção do ridículo.
- E que música você quer?
- Você vai ter que adivinhar!
- Karmem, eu estou trabalhando, o escritório está cheio de pessoas me olhando nesse exato minuto - retruquei, baixinho.
- E daí? Só uma musiquinha, vai.
- Então fala qual você quer.
- Não vou falar e você tem que cantar a canção certa!
- Tá bom, vai aquela da 'Cabeça, ombro, perna e pé', pode ser?
- Pode!
- Cabeça, ombro, perna e pé...
- Tá muito baixo.
- Karmem, já estou passando a maior vergonha aqui.
- Então canta de uma vez com convicção para acabar logo.
- Cabeça, ombro, perna e pé, perna e pé!
- Aposto que você não está fazendo os gestos!
- Tem que fazer?
- Claro! Que graça que tem se você não fizer? Aliás, só deixei cantar essa música, que não foi a que eu escolhi, porque tem a coreografia.
- Tá, vamos lá. Cabeça...
- Você não está fazendo!
- Estou, sim!
- Não tá não!
- Ok, não estava. Mas vou fazer agora.
- E canta alto, que eu quero sentir animação.
- Cabeça, ombro, perna e pé, perna e pé!
- Não vale.
- Por que não vale?
- Você está sentado na cadeira, tem que ser de pé.
- Karmem...
- Tem que ser de pé!
Levantei e comecei:
- Cabeça, ombro, perna e pé, perna e pé! Cabeça, ombro, perna e pé, perna e pé! Olhos, orelhas, boca e nariz. Cabeça, ombro, perna e pé, perna e pé!
No escritório, todos me olhavam. Do outro lado da linha, Karmem ria histericamente.
- Não acredito que você fez isso!
- Ué, não foi o que você me pediu, Karmem?
- Foi, mas o que que vão pensar de você aí agora? Credo, como você é louco!
- Posso desligar agora?
- Aí, tá vendo, quer desligar na minha cara. Você não gosta de falar comigo.
- Gosto, sim, não diga isso.
- Então me canta a musiquinha de ficar feliz.
- Karmem?!?
- Vai, aquela. Você sabe qual. Porque eu fiquei tristinha de saber que você não gosta de falar comigo e preciso voltar a ser feliz.
- Mas eu adoro falar com você.
- Então me mostra!
Como não havia jeito mesmo, dei vazão à loucura:
- Para ser feliz é preciso ter, esse céu azul e a imensidão...
Karmem ria tanto que não pode continuar falando ao telefone.
- Deixa eu desligar, porque estou trabalhando. Meu serviço é sério, não podem me ver gargalhando como uma doida no telefone, né?
- Mas...
- Tchau!
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