16 de mar. de 2009

Fidelidade

Tinha aquele brasileiro que não entendia o futebol.

- É fácil. Veja, são onze jogadores...

- Isso eu sei. O que eu não entendo é a torcida.

- A torcida?

- Sim. Por que uma pessoa escolhe determinado time para torcer?

- Não tem isso de escolha, não! Amor à camisa não tem explicação, amigo.

- Você torce há muito tempo?

- Há trinta anos sou fiel ao meu time.

- Mas você tem exatamente trinta anos.

- Isso mesmo. Saí da maternidade já de uniforme.

- O que significa que você não tinha direito a opinião nenhuma ou consciência do que estava vestindo. Poderia estar vestido de vaso de margaridas que daria no mesmo.

- É. Sim. Bom. Mas assim que comecei a ter noção das coisas, já me apaixonei e me mantive fiel ao mesmo time.

- A vários times.

- Nunca! Sempre ao mesmo!

- Quantos dos jogadores se mantêm desde que você começou a torcer?

- Nenhum.

- Ou seja, com as mudanças de técnico e jogadores, ao longo de trinta anos você torceu para vários times diferentes, mas que tinham o mesmo nome e uniforme, certo?

- Errado. O uniforme também mudou algumas vezes.

- E cada vez que um jogador de algum time rival é contratado para fazer parte do seu, você passa a elogiar a técnica e a habilidade que antes você criticava. É assim?

- Mais ou menos... Mas, olha, não tem emoção melhor que o gostinho da vitória...

- Para cada vitória, sempre há uma derrota do adversário, certo?

- Essa é a idéia.

- Quer dizer, você escolher torcer para um time para poder tirar um sarro com a cara de quem torce para o outro quando o seu ganha. É isso?

- Não tem coisa melhor!

- E em troca, você dá a chance dele azucrinar você quando o seu perde e, como existem vários times, acontece mais vezes a derrota do que a vitória.

- Se você pensar por esse lado... Mas teoricamente, escolhemos o que consideramos melhor, o mais forte, com condições de contratar os melhores jogadores.

- Faria muito mais sentido torcer para o que tem o melhor patrocinador, então.

- Argh!

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